sexta-feira, 2 de junho de 2017

A Mulher Faz o Homem (Mr. Smith Goes to Washington, 1939)


Caso se tratasse de um breve resumo, poderíamos dizer que o filme foi dirigido por Frank Capra e traz James Stewart como protagonista, interpretando um personagem idealista e incorruptível.


Mas peraí! Essa não é a mesma história de Do Mundo Nada Se Leva (1938) e A Felicidade Não Se Compra (1946)? Sim, de fato a sensação de déjà vu é inegável, já que os protagonistas honestos e sonhadores são a marca registrada dos trabalhos do diretor, que tinha como 'muso' o ator James Stewart e o escalou para três de seus filmes mais famosos. Apesar da base temática ser a mesma e as lições edificantes estarem presentes em cada um dos trabalhos de Capra, os enredos de seus filmes são bastante distintos entre si.


Diferente dos outros dois longas que marcaram a parceria entre o ator e o diretor, em 'A Mulher Faz o Homem' temos não só o fator motivacional, onde os verdadeiros valores da vida são reafirmados, como também podemos observar uma forte crítica social, denunciando as farsas para manobrar o povo e os males feitos em prol da ambição. Não é nenhuma surpresa que o lançamento do filme tenha desagradado enormemente os políticos da época e também a imprensa americana, que repudiou a maneira pejorativa com a qual foi retratada. Diversos países, em especial os que estavam sob a ocupação dos nazistas, proibiram a exibição da película ou dublaram as falas com textos mais apropriados para os seus interesses, afinal não era conveniente que a população soubesse como homens poderosos usam de sua influência para manipular e conseguir dinheiro e poder dos quais não tem nenhum direito.


O filme começa com a morte de um senador, que causa uma grande comoção entre os membros de seu partido. A agitação nada tem a ver com o apreço exercido pelo parlamentar e sim com a preocupação em achar um substituto ideal para o falecido, que reúna como princípio básico a veia corrupta aliada à mediocridade, para apenas seguir as ordens dos empresários poderosos sem fazer perguntas, se contentando com a propina recebida. À princípio, o Senador Joseph Paine parece ser a escolha adequada, porém a sugestão não é bem recebida e o jovem escoteiro Jefferson Smith acaba sendo o eleito.


O rapaz é um membro exemplar de uma cidade do interior, com um enorme carisma com as crianças, e por não ter o menor conhecimento em política, passa a ser visto como um peão facilmente manobrável pelos membros do partido. Idealista e nacionalista ao extremo, ele pretende criar um projeto para auxiliar os meninos que não tem moradia fixa e dar-lhes uma profissão para melhorar o futuro dos jovens do país. Embora cheio de boas intenções, Jefferson Smith tem como principal defeito, se é que pode-se assim nomear, sua ingenuidade, que o faz cego para os verdadeiros planos do Senador Paine ao acolhe-lo. Para ele, o Senador é um ídolo e um sinônimo de idoneidade, já que foi um dos melhores amigos de seu pai durante a juventude. 


Cabe a Clarissa Saunders, secretária de Smith, que acaba se apaixonando por ele, alerta-lo sobre os estratagemas de Paine, que utiliza sua bela filha Susan para distrair o aprendiz de político de seus afazeres. Com a descoberta de que os habitantes de Washington não são tão gentis e honestos quanto os de sua cidadezinha no interior, sendo vítima de armações tanto da imprensa quanto dos colegas corruptos, o jovem passa por uma crise existencial, até se dar conta de que não pode desistir de seus ideais e deixar que o povo seja mais uma vez prejudicado por conta da ganância de homens poderosos. 


Dolorosamente atual, mesmo tendo sido feito em 1939, o filme inspirou muitas pessoas a entrarem para a política e lutarem por um mundo melhor. Embora o título faça alusão à importância da mulher na vida de Smith, provavelmente se referindo à personagem de Jean Arthur, a versão brasileira é injusta com o protagonista, que é a verdadeira força do enredo. Clarissa de fato é importante para abrir os olhos do personagem, mas é na fé dele em um país melhor que está a motriz do longa. Em seu discurso na reta final, onde Smith está há mais de um dia sem se render à pressão exercida por seus oponentes e a exaustão de seu próprio corpo, James Stewart utilizou bicarbonato de sódio para deixar sua voz rouca e dar mais veracidade ao cansaço de Smith. O ator levou bastante a sério seu desempenho, pois sabia que seria um papel capaz de leva-lo ao estrelato de maneira definitiva. No elenco, também estão os maravilhosos Claude Rains e Edward Arnold, que interpretou o pai de Stewart em Do Mundo Nada Se Leva, no ano anterior.

O dvd do clássico está sendo lançado pela Classicline e pode ser encontrado nas melhores lojas do ramo. Pra facilitar, clique no nome da loja de sua preferência e você será redirecionado para o site:

Loja virtual Classicline - Saraiva - Livraria da Folha - Livraria Cultura