domingo, 11 de fevereiro de 2018

Quando Setembro Vier (Come September, 1961)


A chegada dos anos 60, trouxe uma nova temática às comédias românticas de Hollywood. Com o enfraquecimento do Código Hays (censura vigente desde meados da década de 30) e o início da revolução sexual na América, os roteiristas começavam a ter uma certa liberdade para abordar temas considerados mais ousados. Ao contrário de produções europeias, que mostravam-se bem mais avançadas em tais questões, o sexo antes do casamento ainda era considerado um tabu nos Estados Unidos. Em 1961, ano de estréia de Quando Setembro Vier, a mentalidade da sociedade americana e de todo o mundo ocidental, de maneira geral, encontrava-se apenas em um processo de transição com relação ao assunto. Embora seja considerado por muitos um filme datado por conta de sua trama central, a produção é sem dúvida alguma deliciosa, misturando cenas cômicas com paisagens e figurinos estonteantes, além da química inegável entre os dois casais principais.

Mas comecemos pelo princípio!


Rock Hudson vive Robert L. Talbot, um milionário americano que todo ano, invariavelmente no mês de setembro, viaja para sua majestosa villa na Itália. O que ele não sabe é que durante os 11 meses de sua ausência, o caseiro da residência aproveita a magnitude do lugar para transforma-lo em um lucrativo hotel.


Durante as férias, sua maior diversão é passar o tempo nos braços de Lisa Fellini (Gina Lollobrigida), mas cansada de ser apenas um caso sem importância na vida do empresário, ele decide casar com outro homem, mesmo sem ama-lo. Ignorando os planos da bela italiana, Robert decide antecipar sua viagem anual e a apaixonada Lisa não resiste ao charme do amado, partindo para encontra-lo em sua mansão, como de costume. Ao chegar na casa, para seu desespero, Robert depara-se com um grupo de jovens americanas que estão sob a tutela de uma professora puritana. Mesmo com todos os esforços de Maurice Clavell (Walter Slezak), o caseiro da residência, o hotel 'secreto' é descoberto por seu patrão americano.


Apesar de furioso, Robert é convencido a deixar que as moças permaneçam hospedadas em sua casa por mais alguns dias. Para a surpresa de todos, incluindo a dele própria, um sentimento paternal começa a surgir no jovem milionário com relação às suas hospedes, especialmente pela inocente Sandy (Sandra Dee). Ao perceber que um grupo de rapazes arruaceiros, liderados por Tony (Bobby Darin), demonstra interesse nas meninas, Robert decide fazer de tudo para protege-las, desde conversas amigáveis com as garotas até pequenas travessuras para desencorajar os jovens. 


Agindo como um legítimo pai antiquado, Robert aconselha as moças a se fazerem de difíceis, confidenciando que um homem jamais irá se casar com uma mulher que faça sexo antes do casamento ou se mostre muito 'fácil'. Ao saber a forma como seu namorado pensa, Lisa decide deixa-lo, pois percebe que o relacionamento entre os dois jamais irá para frente, já que ele provavelmente a enxerga apenas como sua amante italiana. Em contrapartida, Sandy decide conquistar Tony através dos joguinhos ensinados por seu anfitrião. 


Lembra do primeiro parágrafo desta humilde resenha? A revolução sexual nesta época estava apenas dando seus primeiros passos na América, portanto ainda era válida a visão machista da mulher 'para casar' e da mulher 'para se divertir'. Se formos pensar bem, infelizmente há uma grande parcela dos que pensam assim até os dias de hoje. Embora a questão da virgindade até o casamento tenha se tornado apenas uma opção para o sexo feminino nos tempos modernos ao invés da obrigação que era nas décadas passadas, há ainda os que enxergam que apenas homens podem ter vários relacionamentos ao longo da vida, enquanto mulheres tornam-se 'rodadas', 'piranhas' e outros tantos adjetivos pejorativos. Sendo assim, acredito que o filme não seja exatamente datado, apenas mostra um dos problemas enfrentados pelas mulheres no passado, que hoje deram lugar a outros. Gina Lollobrigida, com toda sua voluptuosidade, interpreta uma mulher moderna e sexualmente ativa que deseja ter uma relação séria com o homem que ama, sem precisar espera-lo por 11 meses ao ano. Já Sandra Dee vive a típica moça ingênua pela qual se tornaria famosa, orgulhando-se de sua virgindade e usando-a como moeda de troca para subir ao altar. 


Tratando-se de uma comédia romântica, acho que não é spoiler dizer que no final tudo acaba bem e dois dois casais terminam juntos e apaixonados. Afinal, por mais previsível e clichê que possa ser, no fundo todos amamos um bom happy ending, não é mesmo? Falando em terminar juntos e apaixonados, foi durante as filmagens que Sandra Dee e Bobby Darin se conheceram e começaram a namorar, casando-se poucos dias depois do término da produção. O relacionamento entre os dois durou até 1967 e teve como fruto Dodd Mitchell Darin, único filho do casal. A parceria estendeu-se também no campo profissional, com comédias 'Se o Marido Atender Desligue' (If A Man Answers, 1962) e 'Na Boca do Lobo' (That Funny Feeling, 1965). Devido ao grande sucesso do longa e à enorme química, Rock Hudson e Gina Lollobrigida também repetiram a dose alguns anos depois, atuando juntos novamente em 'Amor à Italiana' (Strange Bedfellows, 1965).


Apesar de uma certa hipocrisia e moralismo e do fato de todos na Itália falarem inglês aparentemente, 'Quando Setembro Vier é um daqueles filmes que podemos indicar sem medo aos amantes do gênero. Com o objetivo de entreter e divertir, a história leve e despretensiosa, com pitadas de comédia e romantismo  misturadas às belas paisagens da Itália, são capazes de conquistar qualquer um. 

O dvd do longa foi relançado há pouco tempo pela Classicline e encontra-se disponível nas melhores lojas do ramo, incluindo a loja virtual da distribuidora